19 de ago. de 2011

Como se draga no mundo e como faríamos no Paraná

Draga holandesa Volvox Delta operando no Canal da Galheta (Paranaguá, Brasil 2009)

Foi comentado por um leitor que o Brasil já teve a Portobrás, uma empresa pública federal que teve dragas que acabaram sucateadas, o mesmo com uma empresa de navegação: o Lloyd Brasileiro.

Só não disse alguns detalhes: O Lloyd foi fundado em 1890 e extinto em 1997, ou seja, durou “apenas” 107 anos! Fantástico para uma empresa brasileira que chegou a ser uma das maiores do mundo na sua época.

Os mais velhos lembram-se da música de Dorival Caymmi “Peguei um Ita no norte”. Pois é, o Brasil tinha uma hidrovia pela sua costa que era integradora do nosso território e milhões de brasileiros viajaram de norte a sul em navios que tinham nomes com o prefixo “Ita”: Itatinga, Itapuca, Itagiba, Itapuhy, Itassucé, Itajubá, Itaipé e Itapagé... além de outros.

Chegamos a ter navios de cargas e passageiros que faziam a linha Manaus a Porto Alegre, e vinham “pingando” nos demais portos, inclusive Paranaguá e Antonina, não e fantástico?

Se não fosse pioneiros públicos e privados, não teríamos chegado ao século 21 com um território imenso e integrado. O Brasil já teria se dividido em pedaços. Mas esta é outra história!

Como se draga no resto do mundo?

De várias formas e modelos:

Visitei em 2006 os portos australianos de Sydney e Newcastle. Lá eles têm sua draga própria para manutenção permanente. Quando fazem grandes obras marítimas, contratam empresas privadas de dragagem por tempo e serviço determinado. Mas o dia a dia é com sua draga. Se quiserem saber, eles têm serviço próprio de praticagem, que são levados aos navios de helicóptero (próprio, inclusive).

Vamos falar de certo país que é simplesmente a maior economia e potência militar do planeta: Chama-se Estados Unidos da América.

Sabem quem faz a dragagem dos portos do país que é a “Meca” do capitalismo e da iniciativa privada?

O Corpo de Engenheiros dos Estados Unidos (US Army Corps of Engineers). Para os incrédulos, passo até o site pra uma boa navegada: http://www.usace.army.mil/.

Para os americanos, há séculos dragagem de suas hidrovias e portos é questão de segurança nacional, e suas dragas próprias garantem 30% da demanda normal de dragagem do país. Os 70% são cobertos por dragas privadas. Países como Japão, China, Rússia, Holanda e qualquer país de primeiro mundo fazem esse mix público-privado.


Aí o leitor privatista vai dizer: “Ah! Eu sabia, são as empresas que fazem dragagem por lá!” Só que existe um pequeno detalhe: Quem planeja, licita e contrata as dragagens por lá é o Exército Americano sempre coordenados com as Autoridades Portuárias do país.

Mas por aqui os “especialistas genéricos” Terceiro Mundo acham que tudo tem que ser privado e depois reclamam das corrupções em obras públicas. Entenda!

Voltemos à “nossa falecida” draga própria. Qual então seria o modelo que a Appa planejou para sua draga própria?

Primeiro quero dizer que não “inventamos a roda”, o modelo já existiu no passado quando da antiga Portobrás, quando então o Brasil tinha uma inteligência portuária, excelentes quadros de técnicos públicos que planejaram e salvaram o que existe hoje em termos de porto.

Não esqueçamos que o Canal da Galheta foi construído nos anos 1970 por esse pessoal, tal como o Corredor de Exportação de Grãos de Paranaguá. Nada foi feito de relevante no país depois deles.

Tivemos a CBD (Cia. Brasileira de Dragagem), extinta com a Portobrás pelo presidente Collor de Mello no início da onda neoliberal privatizante que assolou o Brasil, e o que foi colocado no lugar? Nada! Foi um crime de lesa pátria.

Por isso caro leitor, foi esse colunista quem fez a primeira grande dragagem depois de 30 anos (!). Foram 4 milhões de metros cúbicos retirados do canal que iria entrar em colapso no início de 2009. Salvamos nossos portos por inspiração divina e apoios da comunidade portuária e decisão do governador às minhas argumentações. Uma decisão que até hoje me custa caro, mas cumpri minha missão.
Operação da draga: visão interna do operador. Volvox Delta (Paranaguá,2009)

Foi aí que decidimos comprar a draga. Ela seria propriedade da Appa, mas operada, tripulada e mantida por empresa de apoio marítimo privada, tal como a Portobrás, CBD e outros órgãos federais faziam há mais de 50 anos com sucesso.

Ela seria tripulada por marítimos das cidades do litoral do Paraná, seria baseada aqui e operaria apenas de dia. O custo com tripulação seria baixíssimo em relação às estrangeiras que hoje dragam nossos portos (o Brasil não tem mais dragas de grande porte, se alguém me desmentir me avisem!).

Portanto, se você escutar por aí alguém defendendo e querendo pagar mais caro para uma empreiteira estes serviços, tenha certeza que... Melhor deixar pra lá, já tenho processos demais.

SIGAM-ME NO TWITTER: @daniellucio_pro