29 de jan. de 2013

Evoluir sem medos: Por que as infraestruturas litorâneas despertam temores?

Publicado no jornal eletrônico CORREIO DO LITORAL (Guaratuba-PR).

Quais as razões que levam os paranaenses do litoral a temer o desenvolvimento das infraestruturas regionais?           

Tenho acompanhando as enxurradas de boas notícias oficiais que sempre surgem em momentos politicamente convenientes: início das férias de verão 2013 no litoral do Paraná e início de novas gestões municipais da região. É um bom momento pro marketing político.    



Arte futurística da sonhada ponte Caiobá-Guaratuba.       

As notícias mais replicadas neste verão e noticiadas têm sido:        

- A rodovia federal BR-101, finalmente vai cruzar pelo litoral paranaense, último estado da federação que falta nos seus 4.772 quilômetros, que se inicia no Rio Grande do Norte e termina no Rio Grande do Sul. Ou seja, do Rio Grande de norte a sul. A Secretaria de Infraestrutura e Logística licitará os “estudos” para isso e os dará de presente ao DNIT (órgão federal que prometeu construí-la...). 

- A estrada de Antonina a Guaraqueçaba vai ser, enfim, asfaltada para desespero dos ecologistas e amantes do turismo de aventura. Mas ninguém perguntou ao guaraqueçabano... Eles querem o desenvolvimento sustentável para si e seus filhos, que hoje são obrigados a ir embora quando chegam na fase adulta.      

- A tão sonhada e polêmica ponte Caiobá-Guaratuba volta para a pauta, não só dos protestos (prós e contras), como na agenda do Governo do Paraná. Afinal, não custa nada mandar um assessor tirar da gaveta velhos projetos e “reestudá-la”. Luzes, câmeras e pouca ação! Talvez depois da temporada de verão volte pra gaveta... Não há grana pública pra isso.       

Promessas publicadas: E agora?

- Não nos esqueçamos da frustração dos moradores dos balneários de Matinhos sobre o contínuo avanço das ressacas do mar sobre suas faixas de areia da praia, calçadas, avenida beira-mar e casas. Chegou neste Verão 2013 mais uma versão do projeto de engordamento e revitalização destas praias. Nos anos 2006 a 2009 acompanhei no governo Requião o projeto da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedu), que foi arquivado pelo atual. Afinal, é tradição de a nossa cultura política jogar uma pá de cal nos projetos do antecessor e colocar a grife atual, nem que isso custe dinheiro público.           

Então vamos lá!        

Por que tememos o tal “desenvolvimento” do litoral?  

Atrevo-me a dar minha modesta opinião: carregamos ainda um sentimento romântico de que nosso litoral deve ser uma área de lazer dos paranaenses de “serra acima”, lugar de passar o verão, algumas festas pontuais como as caranguejadas, as tainhas, os Rocios, as procissões dos Navegantes ou o Festival de Inverno em Antonina, um eventual fandango e o carnaval sem identidade cultural.  

Na atualidade, a região do litoral do Paraná não tem uma identidade em si mesma: Guaraqueçaba não tem nada a ver com Guaratuba, que não se identifica com Paranaguá, que é totalmente diferente culturalmente de Morretes, rivais históricas de Antonina. 

Hoje estes municípios têm vida e vocações econômicas distintas entre si, e para cada um há que se ter uma abordagem em separado.

Sou a favor da ponte Caiobá-Guaratuba! (pronto, falei Gustavo Aquino!...). Ela finalmente trará Guaratuba de volta ao Paraná, pois é quase catarinense. Ajudará na competição dos portos de Paranaguá e Antonina competir com os portos catarinenses, trazendo de lá cargas que podem ser aqui embarcadas, o que se torna inviável hoje em dia ao subirem a serra para Curitiba e depois descerem pagando um pedágio abusivo. Mas o marketing político sabe que não há disponibilidade orçamentária pra isso a curto médio prazo. Mas não se pode perder a chance midiática não é?!      

Hoje se visita centenas de castelos medievais por toda a Europa, onde até o pátio interno é asfaltado, sem que isso seja um sacrilégio, mas por aqui nosso atraso ainda resiste até um asfaltinho à última cidade sem esse tipo de pavimento no Paraná. Um absurdo!           

O mesmo pode se fazer em rodovias que passarão por dentro de mata nativa: as áreas laterais (faixa de domínio) seriam intransponíveis por cercas públicas. Isto se faz isso em muitos países, por que não se faz aqui? Isto evitará que uma estrada seja meio de ocupação territorial de suas margens, com degradação ambiental e invasão ilegal de suas margens. Há que se fiscalizar, o que o DNIT e DER são totalmente omissos. (Alô! alô! Ministérios Públicos...). Basta ver hoje como se encontra a rodovia estadual no trecho Praia de Leste a Pontal do Sul: privatizada por invasões particulares dos acostamentos.    

E quanto ao engordamento de praias? Coisa complicada pra nós, e que um país nasceu com areia de dragagens: Holanda. Hoje eles são mestres mundiais neste tipo de obra marítima.   

As praias da Flórida, em especial Miami, são freguesas constantes das empresas de dragagem que bombeiam material retirado de bancos de areia formados a quilômetros a sua frente, e prontas, lá se tem uma nova e mais larga faixa de praia. Para os americanos isto é rotina, aqui se levam décadas de discussões fúteis e arcaicas...        

Finalizando, temos tecnologias suficientes para lidar com isolamentos acústicos de estradas que cruzam áreas urbanas, podemos fazer cruzamentos com viadutos e trincheiras (o DER tem até uma fábrica de pontes de concreto em Ponta Grossa), o isolamento de estradas dedicadas a transporte rodoviário pesado aos portos de Antonina, Paranaguá e Pontal do Sul, sem que haja invasão as mata lateral. E os aterros sanitários? E as ciclovias? E as coletas de lixo e tratamentos de esgotos e lanças nos córregos e no mar água limpa tratada? Basta prefeituras e vereadores deixarem de ser clientelistas e atuarem junto neste mutirão de ordenamento geográfico e ambiental.      

Não devemos temer o desenvolvimento. Há as pessoas que vivem e tocam suas vidas na região, pois a maior inimiga da natureza é a miséria, e só o desenvolvimento responsável poderá eliminá-la.         

Que venham as boas estradas, pontes e revitalização das praias, os aterros e infraestruturas sanitárias. Elas contribuirão para uma mudança positiva da cultura econômica local.  

É a minha opinião!