23 de jun. de 2013

Avançar! Mas sem esquecer a história.

Por DANIEL LÚCIO DE SOUZA

Se na vida real tivesse tivéssemos um controle remoto, nos dias de hoje queria dar um "pause" e voltar à infância e relembrar eventos que as atuais manifestações populares em Guaratuba, Paranaguá, Antonina e muitas outras cidades do Brasil estão experimentando.

No golpe militar de 1964, eu era menino, filho de militar do exército, vi meu pai de prontidão no quartel, parando na nossa casa pra jantar com alguns companheiros de farda. 

O jipe do exército na frente de casa, a metralhadora em cima da mesa de jantar, ainda são imagens gravadas na memória. Minha mãe os recebia com a comida na mesa e dava sua opinião sobre que lado deveria fica naquela confusão.

Uns defendiam a legalidade da democracia e a constituição vigente, outros o golpe comandado por elites e a classe média descontente e manipulada da época. 

Resultado: Patinamos por mais de 20 anos sob regime militar, proibidos de práticas democráticas e formação de consciência política.

O som das lagartas e motores dos tanques e carros de combate do Exército nas ruas ainda ecoa nas minhas lembranças.

Nos anos 60, só havia rádios e jornais impressos, a televisão estava engatinhando em algumas capitais. Celulares, redes sociais, satélites e televisões ao vivo, internet? Nem em filme de ficção científica.

Alguma semelhança com o que se repete hoje? Sim, muitas. 

A "carestia" dos anos 60 foi substituída pelo "tomate", a visão católica conservadora da “Tradição, Família e Propriedade – TPF” foi substituída por “saúde, educação, transporte coletivo barato”.

Nos dias de hoje, tudo fica potencializado pelos instrumentos de comunicação.

Os mega grupos empresariais de mídia, com interesses contrariados ao atual governo, conspiram contra um novo tempo de avanços sociais desta última década, que tirou o Brasil do ranking das mais miseráveis e modestas economias: estamos entre os Top 10 e respeitados no mundo, incluindo socialmente milhões com estudo, casa própria e atendimento à saúde universalizado. Não podemos jogar fora isso, embora muita há de se fazer.

A velocidade da internet, o clique no mouse e a banda larga, tudo cada vez mais rápido. Isto criou novos comportamentos pessoais e sociais com demandas por respostas mais rápidas, seja da sua conexão internet como dos agentes públicos. Qual análise político sociológica que faço dessa nova era? 

O sistema de representação política tradicional, com políticos assalariados, carreiristas e profissionais faliu. Estão absolutamente desconexos dos novos tempos. Têm suas pautas próprias e dos seus grupos financiadores, e não da sociedade.

Vejamos:

O atual sistema republicano nasceu em 1889 da revolta da elite escravagista indignados com Dom Pedro II pela libertação dos "seus" escravos. Lá se vão quase 125 anos e o sistema é absolutamente o mesmo!

Vamos rememorar a história para que essa moçada de hoje aprenda com o passado e não o repita:

Em 1930, Getúlio Vargas derrubou militarmente o presidente Washington Luís, impedindo Julio Prestes, eleito pelo voto assumir. 

Após avanços e crises, em 1954 os conservadores liderados pelo governador do Rio Carlos Lacerda, "suicidam" Getúlio e o país entra em novo circulo de caos.

Elegemos Jânio Quadros que em 1961 tenta um golpe autoritário que dá errado, assume seu vice, o progressista João Goulart, que é deposto pela direita conservadora unida aos militares em 1964.

Resultado? Quase 21 anos de ditadura militar, com supressão de liberdades individuais, torturas, desaparecimentos e descaso por programas de inclusão social. Ficamos com um vácuo de uma geração que não teve oportunidade de prática política. Por isso herdamos as raposas velhas.

Os estudantes da UNE de 1968 como José Dirceu, Dilma, Gabeira entre outros, foram presos ou exilados. Até o ex-líder camponês José Genoíno caiu na armadilha judicial que chamam de “Mensalão”, ou seja, a máquina conservadora os engolindo novamente.

Nos anos 1980, o regime militar já fazia água, abrindo espaço pra campanha "Diretas Já!". Lá estava eu nas ruas de Curitiba assistindo os discursos de Ulisses Guimarães, Tancredo Neves e José Richa.

Por azar do país, Tancredo Neves, morreu na véspera da posse em 1985 e assume o suspeitíssimo José Sarney. 

A crise socioeconômica e instabilidade política nos empurra para uma inacreditável hiperinflação mensal de 40, 50 e até 100% ao mês. Sim rapaziada: Por mês!! Hoje achamos alta uma taxa de 6,5% ao ano!

Pulemos pra 1992:

Interesses de uma grande rede de TV são contrariados e surge a campanha do "Fora Collor", jovens universitários, os "Caras Pintadas" saem às ruas e ele renuncia. Assume o fraquíssimo Itamar Franco, que teve o mérito de ser o pai da nova moeda: Real.

Continuávamos sem rumo, crise econômica e social. Capengando chegamos a 1995, elegemos Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Visão neoliberal da economia privatiza quase tudo que era publico: CSN, Vale, companhias telefônicas, bancos estaduais.

Vejo meninos e meninas de classe média bem vestidos demandando "tudo". Hospitais, escolas, passagens de ônibus barata, fim da corrupção em algum lugar, preferencialmente em Brasília, pra não encarar a realidade local. A pauta é enorme, passa de indignação contra a corrupção política até o projeto "Cura Gay" dos fundamentalistas religiosos, tal como xiitas iranianos. Tudo tem espaço!

Mas, Brasília e não o município é que vira vidraça. Ora! E o modelo de eleição e remuneração de prefeitos, vereadores? 

Cidades de pequeno porte como Paranaguá, Guaratuba, Morretes, Antonina, Guaraqueçaba, Pontal do Paraná e Matinhos não poderiam jamais ter vereadores com salários que chegam a R$ 10 mil por mês. Não pode haver remuneração pela representação comunitária, pois não há orçamento pra isso e as demandas sociais são enormes. Este é o modelo falido que deve ser modificado.

Finalizando, esta geração que está debutando no ativismo político do país, deve fazê-lo de forma pacífica. Muitos jovens nos anos 60 e 70, morreram ou foram presos e torturados como a jovem universitária de 19 anos Dilma Rousseff.  

Ainda temos milhares deles desaparecidos, como ocorreu na Argentina, Chile e muitos outros países naqueles “Anos de Fogo”. 

Avançar socialmente sim! Construir uma país melhor sim! Mas sem esquecer o passado, ignorar a história ou se deixarem manipular pela pauta da mega mídia.

Afinal, quem não conhece sua história, pode repetir os erros do passado e não conseguirá construir um futuro melhor!

Avancemos…mas sem os tanques nas ruas. Viva o Brasil!

É a minha opinião.