19 de ago. de 2008

E se o EMMA MAERSK escalasse nos portos brasileiros?

Title: What happen if 'Emma Maersk' scale brazilian ports

Na discussão logística portuária muito se fala em dragagem, expansão da infra-estrutura portuária, sinalização náutica, calado e mais dragagem, mais aprofundamento dos canais de acesso, e dá-lhe papo de papagaio.
O que pouco se fala é da infra-estrutura de terra, aquilo que não depende das autoridades portuárias ou de governos. Daí surge a minha pergunta: E se o maior navio full-container do mundo, o Emma Maersk resolvesse mudar sua rota do Mar do Norte-Costa Asiática e viesse a operar nos portos brasileiros? Parece ficção científica... E é por enquanto.


Vamos ver os números do ‘monstro’:


- Comprimento: 397 m
- Boca: 56 m
- Calado máximo: 15,5 m
- Velocidade cruzeiro: 2,5 nós / 47,2 km/h
- Capacidade de carga (deadweight): 156.907 tons
- Capacidade de carga de 11.000 TEU[1] (cheios)
- Tripulação mínima: 13 pessoas (camarotes suficientes para 30 pessoas)

Coloco esta discussão para que quando olharmos para os portos, temos que ‘visualizar’ todos os atores: terminais privados, arrendados, trabalhadores portuários, caminhões de apoio, equipamentos e muitos outros. E o fundamental: Contêineres a operar. Uma consignação média nos nossos portos é de 300/400 contêineres, não imaginamos o Emma operar abaixo de 1.500 TEU.
Alguns portos brasileiros poderiam dragar seus canais e até receber o Emma Maersk, mas isto resolveria? Não. Surgiriam os problemas de infra-estrutura em terra.
Por exemplo, nas fotos podemos ver que a operação deste tipo de navio depende de pelo menos 10 transtainers. Como nossos principais terminais têm de 3, 4 ou no máximo 5 equipamentos deste porte, não teria produtividade operacional suficiente para atrair uma escala.
Além disso, os atuais transtainers são do tipo Panamax, quando que os navios tipo Emma Maersk, são pós-Panamax, ou seja, suas configurações excedem os limites do atual Canal do Panamá, sua largura exigiria não só que a lança dos transtainers sejam mais longas, como a altura seja maior. Moral da história desconheço porto brasileiro que tenha equipamentos em quantidade e na configuração necessária. Não há como operar.
E o mercado nacional, teria volumes de TEU nas rotas que este tipo faria nos dois sentidos (exportação/exportação)?
Como se dizia nas aulas de economia: “É o tamanho do mercado que define a especialização”. Assim, é o desenvolvimento da economia brasileira e sua inserção gradual no mercado global é que teremos viabilidade por escala de movimentação de carga conteinerizada que vai possibilitar os desdobramentos que um dia possamos ver estes navios maravilhosos atracados e operando nos portos do Brasil.


[1] TEU = Twenty Eqüivalent Unit ou Unidade Equivalente a Vinte. Isto significa que as medidas equivalem a contêineres de 20 pés, ou seja, um de 40 pés equivale a 2 TEU.