19 de out. de 2008

Dólar alto não é solução: Redução da demanda mundial e queda do comércio global afetarão exportações e investimentos em infra-estrutura do Brasil

title: Higher US dollar rate isn´t solution: Global demand reduction afects brazilian exports
Investimentos em infra-estrutura logística serão impactados pela redução do comércio global: [Investments on logistics infraestructure will be impacted by global trade schrink]


Estamos encerrando 2008 no início de uma das mais severas crises econômicas mundiais após a Grande Depressão dos anos 30. Isto muda radicalmente o cenário de investimentos em logística e infra-estrutura portuária em razão da contração dos fluxos de comércios internacional deverá experimentar nos próximos anos, pelo menos, até 2010.


A desaceleração econômica e a queda dos preços das commodities devem anular parte dos ganhos provocados pelo dólar forte nas exportações. Apesar de a moeda americana, que acumula uma valorização de 36% desde agosto, tornar mais competitivos os produtos nacionais no exterior e turbinar as receitas em reais, os exportadores dizem que a retração provocada pela crise deve reduzir a demanda, com reflexo também sobre os preços.
As previsões variam, mas a maior parte dos analistas prevê queda no saldo da balança comercial (diferença entre exportações e importações) dos US$ 25 bilhões esperados para 2008, para até US$ 5 bilhões em 2009. Os superávits recordes, que ajudaram a elevar as reservas do país nos últimos anos.

Prejuízo
No Brasil, as perdas começam a aparecer nos balanços. A Klabin teve prejuízo de R$ 253 milhões. A Aracruz Celulose revelou perdas de R$ 1,642 bilhão e Votorantim Papel e Celulose (VCP), de R$ 586 milhões. A Sadia deve ter o primeiro prejuízo em 64 anos.
Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, não “será surpresa” se a balança registrar déficit no próximo ano. “Com as economias dos EUA, da Europa e do Japão em recessão, a tendência é que os importadores comprem menos, com reflexo também nos preços dos produtos”, diz.


No caso das commodities, os preços já caíram 25% em média nesse ano. Uma simulação da AEB com uma cesta de 15 commodities, como soja, milho, açúcar, petróleo, cobre, alumínio e níquel, demonstrou uma perda de US$ 9,5 bilhões em função da queda das cotações. “Estamos falando apenas de preço, sem contar a redução do ritmo de encomendas”, diz Castro.
“Se estendermos esse raciocínio para toda a pauta de commodities, estamos falando de uma redução de US$ 32,5 bilhões”, diz. Algumas empresas, como as fabricantes de celulose Suzano e Votorantim Papel e Celulose (VCP), já anunciaram que pretendem reduzir a produção por conta da diminuição da demanda global e a tendência de queda de preços.

No caso dos produtos manufaturados, o benefício do câmbio vai depender de dois fatores, segundo o coordenador do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Maurílio Schmitt. De um lado, o dólar forte encarece os preços dos insumos importados, o que aumenta custos em alguns setores. De outro, os clientes no exterior tendem a pedir redução de preços.

Alguns setores já começaram a sentir os efeitos dessa pressão, como o madeireiro e moveleiro. Responsável por 5,71% das exportações do Paraná, a indústria da madeira não está fechando negócios, de acordo com o o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Juliano Vieira de Araújo. “Além da forte oscilação do câmbio, o comprador lá fora está exigindo descontos no preço para compensar o câmbio”, diz.
O aumento de preços de insumos importados ou cotados em dólar – como vernizes e tintas – e a recessão nos EUA jogaram um balde de água fria no setor de móveis, segundo o presidente da Abimóvel, que reúne o setor, José Luiz Dias Fernandez. “A subida rápida do dólar é mais prejudicial do que benéfica. O comprador do nosso produto sabe que o câmbio nos favorece e negocia redução de preço em troca de manutenção de volumes”, diz.

Mesmo com o Real desvalorizado, o setor revisou de 5% para 2,5% a projeção de crescimento das exportações para 2008 em relação ao ano passado, quando atingiram US$ 1,1 bilhão. Embora tenha diminuído sua participação de 52% para 30% no total exportado pelo Brasil, os EUA ainda são o maior comprador isolado. “A receita agora é diversificar mercado e reduzir a dependência dos americanos, que devem comprar menos”, afirma.

Em um cenário de turbulência, um ponto a favor das empresas brasileiras é justamente a diversificação de destinos de exportação nos últimos anos. No caso do Paraná, por exemplo, a China superou a Argentina e passou a ocupar o primeiro lugar na corrente de comércio – soma das exportações e das importações –, com US$ 2,5 bilhões de janeiro a setembro. A economia chinesa deve ser menos afetada pela crise internacional e manter o crescimento, ainda que em um ritmo menor.

Opinião
Este blog alerta que a ‘febre’ de críticas em relação aos investimentos privados em infra-estrutura portuária e críticas às administrações públicas deverão diminuir. O atual cenário de final de 2008 projeta para no mínimos os próximos dois anos, uma desaceleração do ritmo e a suspensão pelo menos temporária de muitos projetos ligados à portos e comércio exterior.

Fonte: Baseado em matéria publicada no jornal GAZETA DO POVO (Curitiba-PR de 19/10/08) e as opiniões pessoais do autor.