19 de mai. de 2010

Apagão na logística dos portos.

Title: Logistics blackout for brazilian ports future.

Nos sete anos que atuei na APPA e chegando à superintendência em setembro de 2008, meu foco sempre foi a infraestrutura portuária, já antevendo o apagão logístico que se aproximava e dos portos concorrentes na mesma hinterlândia dos portos do Paraná (Paranaguá e Antonina).


Draga HAM 310 atracando em Paranaguá em Fevereiro de 2009: um momento histórico!

Meu batismo foi uma dragagem emergencial do Canal da Galheta que estava prestes a fechar no último bimestre de 2008, o que seria desastroso para a economia do Paraná e do Brasil, pois os embarques da safra a ser colhida no início de 2009 já estava próxima e os contratos com embarcadores e tradings que estavam definindo os portos por onde operarem já tornava fatal uma indefinição da dragagem de Paranaguá.

Em 21 de janeiro de 2009 estava assinando com o Governador do Estado o contrato tão importante para a vinda dos portos de Paranaguá e a nossa Antonina, que já vinha enfrentando problemas operacionais graves.
Uma nova geração de navios exige uma nova infraestrutura portuária: marítima e terrestre.

Em meados de 2009 a Galheta estava dragada, sendo a melhor dragagem ocorrida desde sua construção nos anos 70.

Mas os problemas não param por aí. Há que se ivestir continuamente na infraestrutura portuária. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA elaborou um estudo com conclusão importantes para os decisores de investimento na área portuária denominado Portos Brasileiros: Diagnóstico, Políticas e Perspectivas.

Algumas conclusões do estudo:

• O Brasil tem cinco anos para evitar um apagão logístico, caso a economia cresça num patamar entre 4% e 5% ao ano. Isso porque os investimentos previstos para a área portuária correm o risco de não dar conta das 265 obras avaliadas como necessárias para comportar o volume de transporte de cargas no país e de transporte de mercadorias a serem exportadas.

Estaleiros do Brasil entram na corrida logística nacional através do PAC

• Segundo levantamento do Ipea, obras previstas no PAC cobrem apenas 12% das deficiências identificadas nos portos brasileiros. Segundo levantamento do Ipea, obras previstas no PAC cobrem apenas 12% das deficiências identificadas nos portos brasileiros “Das 265 obras constatadas como necessárias, apenas 51 estão previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Isso não representa sequer um quarto do valor necessário para atender as demandas”, explicou o coordenador de Desenvolvimento Urbano do IPEA, Bolívar Pêgo. “E se excluirmos os acessos terrestres considerados pelo programa, o PAC cobre apenas 12% das deficiências identificadas.”

Modais logísticos para negócios: desde a Internet aos portos, todos necessitam de melhores infraestruturas.

• O valor estimado para a totalidade das obras consideradas necessárias pelo IPEA é de R$ 42,879 bilhões. Para as 51 obras previstas pelo PAC, são previstos investimentos da ordem de R$ 9,855 bilhões. “A gente considera que se a economia vier a crescer a uma taxa de 5% nos próximos anos, teremos problemas nas áreas não só de portos, mas de infraestrutura em geral. Todos queremos que o Brasil cresça, mas isso tem de ser casado com os investimentos compatíveis aos portos. Infelizmente, neste momento, esses investimentos são insuficientes”, avaliou.

• Os principais gargalos são ligados a obras de dragagem e de acesso aos portos por rodovias e ferrovias. “Identificamos que os portos carecem de obras na área de dragagem e de facilidades de acesso. Estes podem ser considerados como os principais problemas dos portos brasileiros”, avaliou o coordenador de Infraestrutura Econômica do IPEA, Carlos Campos. “Mas a questão da gestão é também bastante relevante, porque se a carga chega ao cais e encontra serviços morosos e funcionamento limitado a apenas dez horas por dia, cria estrangulamento e atrasa o embarque e o desembarque da mercadoria”, complementa Bolívar. Segundo ele, todos os portos brasileiros apresentaram problemas sérios de dragagem. “Muito disso se deve à decorrente falta de um sistema regulatório”.

• Na área de dragagem e derrocamento, foi identificada a necessidade de serem realizadas 46 obras. Destas, 36 de aprofundamento e alargamento das vias utilizadas pelas embarcações. “O PAC atua em 19 obras, num custo estimado de R$ 1,539 bilhão. Isso corresponde a 55,3% dos R$ 2,278 bilhões estimados para a realização dessas 46 obras identificadas como necessárias”, disse Bolívar. “E das 45 obras de acesso identificadas como necessárias, cujo custo estimado é de R$ 17,291 bilhões, apenas 14 estão previstas pelo PAC. Elas custarão R$ 6,784 bilhões, ou 39,2% do valor total de obras necessárias.” Para Carlos Campos, “embora louváveis, os investimentos previstos no PAC não representam mais do que um esforço para compensar o país pelos 30 anos sem investimentos em infraestrutura”.

Ferrovias: um gargalos que pode inviabilizar as commodities para o porto de Paranaguá entre 10 a 15 anos caso não haja um novo ramal com bitola larga cruzando a Serra do Mar em direção ao porto.


A distância entre a previsão desses investimentos e a realização física da obra preocupa os especialistas. Dos R$ 1,539 bilhão destinado a obras de dragagem e derrocamento para o período entre 2007 e 2011, apenas R$ 25,40 milhões foram aplicados até 2008. O programa prevê, ainda, investimentos de R$ 27,28 milhões em acessos terrestres a portos, para o mesmo período. Destes, R$ 11,80 milhões foram efetivados até o ano de 2008.

Como ex-Autoridade Portuária dos portos do Paraná, relatei por diversas vezes neste blog os entraves que o gestor público enfrenta para gerenciar os portos públicos brasileiros. Uma teia de entraves e multiplicidade de "autoridades" no mesmo espaço regulatório, além das amarras legais, que em nome da moralidade emperram a velocidade das decisões, como por exemplo, a lei das licitações (Lei nº 8666/93), além da lei dos portos (Lei nº 8630), combinando-se com o fato das administrações serem entes ligados a governos, sejam federais, estaduais ou municipais, com suas legislações específicas e subordinação hierárquica multifacetada.

Berços para navios portacontêineres: ocupação total gerará colapso operacional em breve caso o terceiro berço não seja licenciado pelo IBAMA para início das obras que só estarão prontas após um ano de seu início. Desafio para a nova gestão da APPA.

Ou seja: o administrador de portos no atual modelo brasileiro é antes de mais nada um herói.

Agora na iniciativa privada, vejo à distância as estruturas públicas que conviví nestes anos estão obsoletas e não conseguem mais dar respostas à velocidade com que os gargalos logísticos que o país enfrenta e que o estudo acima do IPEA bem diagnosticou.

Fonte: Comentários do autor do blog e dos veículos: Jornal Tribuna do Norte (RN) - 19/05/2010, publicado no site
http://www.portalnaval.com.br/noticia/30264/brasil-corre-risco-de-apagao-da-area-logistica-em-portos-