21 de jul. de 2011

Portos de cargas e navios de turismo: Como conciliar? (Parte 1)

Esse blog em conjunto com o site do Correio do Litoral tem divulgado os encontros sobre grupos técnicos de turismo, terminal para navios de passageiros em Paranaguá e outras informações do que se discute atualmente sobre o assunto no litoral do Paraná.

Mas o assunto não é novo! Vejamos a notícia sobre o último navio que trouxe à Paranaguá no site da Appa:
http://www.appa.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=526&tit=Navio-com-mais-de-13-mil-passageiros-atraca-no-Porto-de-Paranagua

O Correio do Litoral.com também cobriu o assunto com diversas matérias, como estas: Veendam mobiliza turismo do litoral do Paraná e Litoral terá teste de receptivo de cruzeiros


Ainda na minha gestão à frente da Appa (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina), atracava um dos últimos navios de passageiros no porto de Paranaguá, em 22/03/2010: O navio Veedam que fazia um cruzeiro de volta ao mundo com passageiros na sua maioria alemães e holandeses. Procedente de Punta Del Este (Uruguai) o navio seguiu depois para outros destinos na costa brasileira após a escala Paranaguá.

Depois disso, se não me engano, mais nada...

Mas afinal o que acontece com essa eterna conversa sobre navios de passageiros? Má vontade do porto? De sua administração? Qual a verdade em torno desse assunto?

Então vamos lá:

* Empresários dos terminais de cargas nos portos não gostam de navios de passageiros, pois tomam a vez nos preciosos berços de atracação, furam a fila e não agregam nada a eles.

* Os trabalhadores portuários, idem. Afinal, navios de passageiros não usam mãos de obra portuária dos sindicatos como um navio cargueiro usa. É próximo a zero a geração de trabalho no cais do porto.

* O porto não tem em seus quadros pessoal qualificado para este tipo de receptivo, nem guias de turismo bilíngue e por aí vai...

* O mau cheiro, o calor escaldante do verão e um guindaste ao lado descarregando fertilizantes e jogando poeira na cara de velhinhos europeus não é nada civilizado ou um cartão de visita para quem acha que isso é “incentivar o turismo”.

* Os portos do Paraná foram há décadas configurados para carga e não para passageiros, o conceito é outro e as instalações e pessoal qualificado é totalmente distinto.

Resumindo: Nossos portos não gostam de turistas e os tratam mal, não somos do ramo ainda... Tampouco nossas cidades estão preparadas para recebê-los.



Mas tem solução tudo isso? Sim, a longo prazo!

Temos que investir em gente especializada, poliglotas (inglês e espanhol fluentes seria um bom começo), terminal próprio, estrutura de receptivo como terminal, aduana e imigração, ônibus de operadores de turismo, cidades bem sinalizadas em e bons restaurantes e lojas para atendimento ao turista. Temos isso? Não!

Em 2009 recebi do prefeito de Paranaguá um estudo em maquete digital de um terminal para passageiros, ficaria situado aproximadamente nos fundos do atual terminal de contêineres, em frente à ilha da Cotinga. Teria um acesso rodoviário direto do centro de Paranaguá por uma ponte elevada que passaria sobre famoso rio do Chumbo, que deve antes ser tratado, devido ao mau cheiro e ocupações irregulares.
Ilustração digital do estudo municipal para um terminal marítimo de passageiros em Paranaguá (2009)

Encaminhei à Secretaria de Portos, ao então ministro Pedro Brito, para inclusão no PAC-2, mas como o ministro saiu e assumiu uma diretoria na Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), e o novo passou por aqui dizendo que “... não sabe de nenhum projeto que a Appa enviou...”, já deu pra perceber o nível de conhecimento de um político vindo do sertão do Ceará.

Exigirá uma dragagem imensa e cara para permitir que estes meganavios entrem no estreito canal e façam sua evolução, o que já é por si só um grande desafio. Isto sem falar do licenciamento ambiental, um acordo com a Funai devido aos índios que moram na Cotinga etc.

Quem paga a conta? A Appa é que não será. Isto  não passaria no Conselho de Autoridade Portuária (CAP) que é composto apenas por empresários do segmento de cargas e não permitirão “desvio dinheiro da infraestrutura” para um empreendimento sem retorno econômico. Nem a Antaq permitirá.

Então a grana deverá vir da “viúva”, mais conhecida como Tesouro Federal, e aí se explica reuniões pra lá, comissões e subcomissões pra cá, reunião de bancadas federais em “busca de recursos federais"... e esse blá blá blá todo. E mais uma vez mata-se a bola no peito e joga pro “futuro”.

Mas, como o assunto é interessante, falaremos na próxima semana de segmentos que têm interesse no terminal de passageiros, sua viabilização e como funciona a decisão dos grandes operadores de turismo para decidirem “onde” escalar os seus transatlânticos.

Até mais!