* Autor Wagner Victer
Uma figura execrável da história do século passado bradava “uma
mentira falada mil vezes virará uma verdade”. Vejo que o absurdo desta
afirmação, à época por motivos torpes, infelizmente muitas vezes se comprova em
forma de mitos que prosperam em nosso país, em especial em alguns setores
empresariais, com o setor do Petróleo.
Por uma maior comodidade em não querer analisar mais profundamente os gargalos setoriais, alguns “especialistas de plantão”, consultores e, pasmem, até executivos colocam como sendo um grande obstáculo ao crescimento do país e agora do setor de Petróleo, um virtual “apagão” na oferta de mão de obra especializada no Brasil.
É certo que em alguns cortes específicos, até por exigências legais de registros profissionais, temos alguma restrição na oferta de mão de obra, como o caso de Engenheiros Navais, com basicamente duas ou três instituições universitárias no país com tradição na formação e também na área de marítimos mercantes onde a qualificação, ainda centralizada na Marinha do Brasil, não tem acompanhado, na mesma velocidade, o saudável processo de exigência de nacionalização da frota de embarcações de apoio e consequentemente da mão de obra, apesar de sua ampliação nos últimos anos.
Neste contexto, onde o mito prospera sobre os fatos, fiquei impressionado com a matéria de hoje do Jornalista Rodrigo Polito do jornal Valor Econômico, publicada na página B9, onde a partir de um estudo feito pela conceituada consultoria Accenture, se aponta a oferta de mão de obra como sendo um grande obstáculo para o crescimento do setor petrolífero no Brasil.
Sem desqualificar a conclusão do estudo de consultoria, o que tecnicamente seria incorreto até porque só tive acesso pelo texto da matéria, porém já discordo pela tese, pois só posso creditá-la (ou debitá-la) a uma miopia profunda para a grande oferta de mão de obra existente no país, nos diversos níveis e certamente com uma qualidade e quantidade muito maior que a existente em outros locais do mundo que tiveram que enfrentar desafios no setor petrolífero com os próprios países do Mar do Norte.
Faço esta afirmação com toda tranquilidade, pois durante os 8 anos que fui Secretário de Estado de Energia, Industria Naval e Petróleo, o que coincidiu com o início do primeiro leilão da ANP, em 1999, logo após a abertura do setor de Petróleo, desenvolvemos uma rede de formação de mão de obra, nos diversos níveis, para o setor de petróleo e também para o setor industrial correlato, que não se limitou ao Rio de Janeiro e que se desdobrou por todo país e depois foi inclusive incrementado para os níveis básicos pela criação do PROMINP pelo Governo Federal e inclusive quando a Graça Foster era Secretária de Petróleo.
Neste contexto, criamos em 1999 na Universidade do Norte Fluminense (UENF) o curso de Graduação de Engenharia de Petróleo, hoje desdobrado em dezenas de universidades espalhadas no país e já com milhares de graduados. Através dos CEFET’s e Institutos Tecnológicos Federais e da própria FAETEC (estadual), estas focadas no ensino profissionalizante técnico e básico e os outros níveis de qualificação avançaram significativamente.
Dezenas de “Cursos Técnicos” para o setor petróleo também foram criados e já formaram milhares de profissionais com um nível bastante adequado. No âmbito do SENAI que são Institutos de referência, simuladores virtuais em padrões equivalentes aos melhores em âmbito internacional foram desenvolvidos e implantados e funcionam a todo vapor.
A partir de 2001, em um conceito adotado em outros países de sucesso como na Alemanha, implantamos de maneira massificada no país em diversas Instituições Públicas e Privadas a formação de profissionais em nível superior de curta duração (2 a 3 anos) que são os Tecnólogos para os diversos cortes das demandas técnicas em especial as do setor Petróleo, um corte de formação ainda pouco aproveitado.
O que estamos vendo, portanto sem qualquer demérito a estudos e opiniões isoladas de alguns executivos é que ao contrário de falta de mão de obra qualificada, existe sim uma acomodação empresarial em ter uma postura proativa para identificar talentos e profissionais nas diversas Instituições tanto de formação superior, técnica e básica e acompanha de uma ação para qualificar de maneira complementar o profissional para a sua empresa.
É muito importante destacar que empresas que adotam parcerias com as próprias instituições de formação ou que criam suas universidades corporativas, estão alheias a este apagão de mão de obra e os observam como puro besteirol. A própria Petrobras foi pioneira ainda quando era monopolista e existiam poucas opções de oferta, criando ou seus centros de ensino internos ou em parceria com universidades nacionais, sendo o mais conhecido o CENSUD, formando em cursos complementares como CENEQ (Engenharia de Equipamentos), CENTO (Engenharia de Terminais e Oleodutos) superando qualquer suboferta em um momento mais difícil e critico.
Desta maneira, posso afirmar, temos ainda milhares de jovens
desempregados, já com boa formação suficiente para o ingresso no Mercado de
trabalho do setor petróleo ou para um processo de qualificação rápida para
adaptação com grande potencial e ávidos por oportunidades desde estágios até o
primeiro emprego.
Não podemos alimentar em nosso país um discurso fraco que venha pavimentar uma “onda” para querer justificar a importação de mão de obra qualificada, o que seria um grande retrocesso para o país, além de um ato de guardiã empresarial.
* Wagner Victer
Especialista em energia, indústria naval e petróleo.
Por uma maior comodidade em não querer analisar mais profundamente os gargalos setoriais, alguns “especialistas de plantão”, consultores e, pasmem, até executivos colocam como sendo um grande obstáculo ao crescimento do país e agora do setor de Petróleo, um virtual “apagão” na oferta de mão de obra especializada no Brasil.
Exploração do petróleo brasileiro no Pré Sal: oportunidades profissionais em centenas de especialidades.
É certo que em alguns cortes específicos, até por exigências legais de registros profissionais, temos alguma restrição na oferta de mão de obra, como o caso de Engenheiros Navais, com basicamente duas ou três instituições universitárias no país com tradição na formação e também na área de marítimos mercantes onde a qualificação, ainda centralizada na Marinha do Brasil, não tem acompanhado, na mesma velocidade, o saudável processo de exigência de nacionalização da frota de embarcações de apoio e consequentemente da mão de obra, apesar de sua ampliação nos últimos anos.
Neste contexto, onde o mito prospera sobre os fatos, fiquei impressionado com a matéria de hoje do Jornalista Rodrigo Polito do jornal Valor Econômico, publicada na página B9, onde a partir de um estudo feito pela conceituada consultoria Accenture, se aponta a oferta de mão de obra como sendo um grande obstáculo para o crescimento do setor petrolífero no Brasil.
Sem desqualificar a conclusão do estudo de consultoria, o que tecnicamente seria incorreto até porque só tive acesso pelo texto da matéria, porém já discordo pela tese, pois só posso creditá-la (ou debitá-la) a uma miopia profunda para a grande oferta de mão de obra existente no país, nos diversos níveis e certamente com uma qualidade e quantidade muito maior que a existente em outros locais do mundo que tiveram que enfrentar desafios no setor petrolífero com os próprios países do Mar do Norte.
Estaleiro Rio Grandes (RS): Mega investimento da indústria naval gerando inúmeras oportunidades profissionais
Faço esta afirmação com toda tranquilidade, pois durante os 8 anos que fui Secretário de Estado de Energia, Industria Naval e Petróleo, o que coincidiu com o início do primeiro leilão da ANP, em 1999, logo após a abertura do setor de Petróleo, desenvolvemos uma rede de formação de mão de obra, nos diversos níveis, para o setor de petróleo e também para o setor industrial correlato, que não se limitou ao Rio de Janeiro e que se desdobrou por todo país e depois foi inclusive incrementado para os níveis básicos pela criação do PROMINP pelo Governo Federal e inclusive quando a Graça Foster era Secretária de Petróleo.
Neste contexto, criamos em 1999 na Universidade do Norte Fluminense (UENF) o curso de Graduação de Engenharia de Petróleo, hoje desdobrado em dezenas de universidades espalhadas no país e já com milhares de graduados. Através dos CEFET’s e Institutos Tecnológicos Federais e da própria FAETEC (estadual), estas focadas no ensino profissionalizante técnico e básico e os outros níveis de qualificação avançaram significativamente.
Dezenas de “Cursos Técnicos” para o setor petróleo também foram criados e já formaram milhares de profissionais com um nível bastante adequado. No âmbito do SENAI que são Institutos de referência, simuladores virtuais em padrões equivalentes aos melhores em âmbito internacional foram desenvolvidos e implantados e funcionam a todo vapor.
A partir de 2001, em um conceito adotado em outros países de sucesso como na Alemanha, implantamos de maneira massificada no país em diversas Instituições Públicas e Privadas a formação de profissionais em nível superior de curta duração (2 a 3 anos) que são os Tecnólogos para os diversos cortes das demandas técnicas em especial as do setor Petróleo, um corte de formação ainda pouco aproveitado.
Estaleiro Itajaí: mais um pólo profissional no sul do país para a indústria de apoio às plataformas de petróleo (PSV).
O que estamos vendo, portanto sem qualquer demérito a estudos e opiniões isoladas de alguns executivos é que ao contrário de falta de mão de obra qualificada, existe sim uma acomodação empresarial em ter uma postura proativa para identificar talentos e profissionais nas diversas Instituições tanto de formação superior, técnica e básica e acompanha de uma ação para qualificar de maneira complementar o profissional para a sua empresa.
É muito importante destacar que empresas que adotam parcerias com as próprias instituições de formação ou que criam suas universidades corporativas, estão alheias a este apagão de mão de obra e os observam como puro besteirol. A própria Petrobras foi pioneira ainda quando era monopolista e existiam poucas opções de oferta, criando ou seus centros de ensino internos ou em parceria com universidades nacionais, sendo o mais conhecido o CENSUD, formando em cursos complementares como CENEQ (Engenharia de Equipamentos), CENTO (Engenharia de Terminais e Oleodutos) superando qualquer suboferta em um momento mais difícil e critico.
Estaleiro Brasfels em Angra dos Reis (RJ): Oportunidades no sudeste, com a maior concentração da indústria naval brasileira.
Não podemos alimentar em nosso país um discurso fraco que venha pavimentar uma “onda” para querer justificar a importação de mão de obra qualificada, o que seria um grande retrocesso para o país, além de um ato de guardiã empresarial.
* Wagner Victer
Especialista em energia, indústria naval e petróleo.
Fonte: Jornal O GLOBO de 03/01/12